De olho na prática da Indústria 4.0

Frau Prof. Dr.-Ing. Birgit Vogel-Heuser von Institute of Automation and Information Systems der Technischnen Universitaet Muenchen, im Labor mit der Anlage "  MyJoghurt - Industrie 4.0-Demonstrator " ; abgebildete Person: Frau Prof. Dr.-Ing. Birgit Vogel-Heuser ; Ort :  Institute of Automation and Information Systems der Technischnen Universitaet Muenchen, Boltzmannstraße 15, 85748 Garching; Datum: 16.01.2017; Copyright: Uli Benz / TU Muenchen; Verwendung: Frei fuer Berichterstattung ueber die TU Muenchen unter Nennung des Copyrights.
Na foto a Prof. Dr.-Ing. Birgit Vogel-Heuser

O tema Indústria 4.0 está em pauta. Não há dúvidas de que o futuro da produção está diretamente ligado à essa temática e quem se fecha para esta nova realidade, está bloqueando diversas portas do sucesso. Mas o que é exatamente a indústria 4.0? A Prof.ª Birgit Vogel-Heuser, da Faculdade de Sistemas de Informação e Automação da Universidade Técnica de Munique (TUM), explica por que é tão difícil encontrar uma definição e como as empresas podem implementar uma nova revolução industrial.


Muitos falam sobre a Indústria 4.0, mas muitas pessoas não conseguem imaginar nada de concreto. Existe uma definição?
Vogel-Heuser: Sim, existem definições, mas nenhuma que seja verdadeiramente reconhecida, ou as existentes são tão genéricas que não dizem nada demais. Na verdade, a Indústria 4.0 é um conceito que tem muitas facetas. Resumir isso em apenas uma frase simplesmente não funciona.

Quais são os mal-entendidos mais comuns em relação à Indústria 4.0?
Vogel-Heuser: Muitas pessoas pensam que podem comprar Indústria 4.0. Isso não é possível. Há estandes de feiras que anunciam com a inscrição: temos um PC de Indústria 4.0. Totalmente absurdo. Um PC, que é um dispositivo com um software, em si não pode ser Indústria 4.0. Muitas vezes, também ouço em cursos de formação: ‘Diga-me como a Indústria 4.0 funciona para a minha empresa’. Isso não é possível. Cada empresa precisa considerar o que é interessante sobre este leque de componentes da Indústria 4.0 para si, para os seus negócios e os seus clientes.

Pode dar exemplos?
Vogel-Heuser: Eu tive uma sessão de formação com uma empresa onde ainda é realizado muito trabalho manual. Mas há uma grande máquina central que muitas vezes falha. Agora a empresa associou-se com o concorrente que tem essa máquina, e iniciou um projeto industrial 4.0 com o fabricante da máquina para reduzir as falhas e encontrar as suas causas. Em outro caso, quando uma grande empresa tem muitos departamentos, a comunicação entre eles deve ser otimizada para melhorar a engenharia e a análise de dados. Portanto, não se pode dizer: ‘explique-me, o que eu devo fazer na minha empresa? Aqui, todos devem considerar onde existem deficiências e o que traz mais benefícios.

A Indústria 4.0 otimiza a empresa?
Vogel-Heuser: Sim, é um processo de optimização. Afinal, queremos que as nossas fábricas funcionem melhor para que possamos manter a competitividade ou mesmo melhorá-la. Para isso, temos estes diferentes mecanismos da Indústria 4.0. Por exemplo, eu agora posso ligar-me à rede, porque em quase todos os lugares está disponível um bom acesso à internet. Esta ligação à rede pode ter lugar não só na própria empresa, mas também nos concorrentes. Muitas empresas estão bastante dispostas a partilhar os seus dados com alguns dos concorrentes, porque com estes obtêm mais conhecimento, e mais conhecimento significa que eu posso trabalhar de forma mais produtiva.

Como pode isso ocorrer na prática?
Vogel-Heuser: Por exemplo, os fabricantes e os operadores do local de construção podem trocar dados entre si sobre o maquinário de construção, isto é, quantas vezes o dispositivo está em uso, que rotas são utilizadas ou que erros foram detectados. Quando vejo que um dispositivo está falhando, posso descobrir rapidamente onde o arranjar ou pedir outro emprestado. E talvez até mesmo com o concorrente, se eu souber que ele não precisa da sua máquina. E posso compensá-lo monetariamente por isso. Assim, ambos se beneficiam. Este é realmente um novo olhar para além dos limites de negócio.

No projeto “MyJogurth” há vários professores envolvidos?
Vogel-Heuser: Os professores também são concorrentes quando pesquisam e ensinam em diferentes universidades. Queríamos mostrar que podemos construir algo junto, e que também podemos aprender juntos. Cada um tem os seus pontos fortes e, quando trabalhamos juntos, emerge um sistema de Indústria 4.0. Assim, em parceria, temos escrito modelos e software.

Neste sistema, deve ser considerado outro aspecto da Indústria 4.0: o produto inteligente. Como funciona?
Vogel-Heuser: Você tem, por exemplo, um frasco de iogurte que sabe como vai ser preenchido. Digamos que deseja manga e morangos. Primeiro precisa saber que isso pode ser fabricado, que todos os ingredientes estão disponíveis e que a fruta pode ser processada na fábrica. A seguir, as embalagens são levadas e recebem o que precisam. Estão, por assim dizer, em contato com a fábrica. A ideia em si é bastante antiga e agora é viável.

Com o conceito Indústria 4.0, muitas pessoas também pensam numa produção totalmente automática, em que os trabalhadores já não são necessários…
Vogel-Heuser: Fábricas sem trabalhadores humanos não são o que queremos alcançar. Há certas coisas que as máquinas podem fazer melhor do que as pessoas. Por exemplo, levantar coisas pesadas ou atividades monótonas como a avaliação de dados. Queremos livrar-nos dessas atividades despretensiosas e demoradas. São essas coisas que nos impedem de fazer o que realmente queremos. A Indústria 4.0 pode contribuir para isso. As pessoas podem fazer outras tarefas ainda melhor do que as máquinas como, por exemplo, reagir a situações críticas e imprevistas. Além disso, na Indústria 4.0, as pessoas devem ser apoiadas no trabalho por máquinas.

Como pode isso ser encarado?
Vogel-Heuser: A questão é: como posso melhorar as competências de trabalhadores menos qualificados?  Eles podem, por exemplo, fazer a manutenção de uma máquina. É importante dividir o trabalho complexo em passos simples e não sobrecarregar as pessoas. É possível interpretar as suas reações, por exemplo, através de um par de óculos que detectam a direção dos olhos. Se alguém olha ao redor e não sabe como continuar o processo, pode-se determinar isso e tentar descobrir o que a pessoa não entendeu. Estas informações podem ser usadas para reprogramar e melhorar a interface e o software.

Foto: Divulgação TUM – Universidade Técnica de Munique