“A economia alemã continua forte, mas não imune”


A declaração é de Martin Wansleben, presidente executivo da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio e Indústria (DIHK na sigla em alemão), em uma entrevista concedida à revista Focus e divulgada no site da instituição. Apesar da crise do euro, Wansleben não prevê uma recessão na Alemanha. Leia abaixo os principais pontos da entrevista.



"Focus": Os institutos de economia não estão otimistas quanto ao crescimento da Alemanha no segundo semestre deste ano. Eles falam inclusive em uma recessão. O Sr. também vê as coisas desse modo?



Martin Wansleben: A economia alemã está robusta, mas ela não está imune a perigos de contaminação decorrentes da crise do euro. No primeiro trimestre deste ano, tivemos um crescimento de 0,5% e no segundo trimestre, de 0,3%. Em outras palavras, isso quer dizer que continuamos a nos mover em um ambiente positivo.



Não vejo até agora sinais de uma recessão. É bem possível que no final do ano a economia alemã registre um crescimento de 1,0%.



"Focus": Quais são os setores da indústria mais afetados no momento?



Martin Wansleben:  As empresas tendem a ser mais estáveis quando adotam uma linha de exportar para vários países do mundo. No momento, a indústria automobilística vive um ciclo de incertezas. Isso não é só consequência do fraco desempenho dos mercados do sul da Europa, mas, especialmente, dos segmentos de baixo preço, devido ao plano de incentivos (compra de carros usados) implantado em  2008 e 2009. Faltam clientes ao mercado interno.



"Focus": Mas esse não é o único setor que enfrenta dificuldades, ou é?



Martin Wansleben: Não vejo atualmente nenhum incêndio fora de controle,  crise pontual, assim como nenhuma ampliação da crise. Empresas na Alemanha estão bem posicionados no mundo todo e têm bons motivos para estarem  confiantes.



O setor de máquinas e equipamentos, por exemplo, de acordo com estimativas, deverá apresentar até o fim do ano um crescimento de 2,0%. A indústria química, por outro lado, está um pouco mais pessimista, o que pode estar relacionado à queda dos estoques em seus clientes. Nesse setor, o futuro é, ainda, incerto.



"Focus": Caso  haja um enfraquecimento no desenvolvimento das economias da China e da Índia,  faltarão, em última instância, os principais mercados compradores.



Martin Wanslebem: A economia da Índia teve uma rápida expansão mas, no momento, passa por uma certa, vamos dizer, “pausa”. Também a China continua sendo para a Alemanha um importante mercado. No seu conjunto, a população mundial crescerá nos próximos anos – e com isso aumentam as nossas oportunidades de exportação.



"Focus": Mas não faltaria aos empresários uma linha política clara?  Decisões controversas do Banco Central Europeu tais como a olimitada compra de títulos públicos não fazem aumentar, entre os alemães, os receios quanto ao futuro?



Martin Wansleben: As incertezas na Europa representam, certamente, um peso adicional. Nesse ambiente, passa a ser muito importante a implantação de reformas bem embasadas, coerentes e oportunas. Isso será, sem dúvida, doloroso também para o cidadão, do ponto de vista individual. Mas, a partir do momento em que as reformas tiverem sido dado resultados, o ambiente passará a ter mais previsibilidade e a confiança também deverá crescer.



Além disso, a compra de títulos dos governos pelo BCE se tornaria um acelerador da crise, caso  não se trabalhasse duro, em paralelo, na implantação de reformas. Não há espaço na Europa para o individualismo.



"Focus": E como está a questão do imposto sobre fortunas na Alemanha?



Martin Wansleben: Impostos adicionais seriam um veneno para a nossa economia. Exatamente neste momento, tanto a indústria quanto o comércio necessitam mais liquidez para poder fazer os investimentos necessários. 

Thomas Imophotothek.net
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