Os riscos do real valorizado e o yuan desvalorizado

Há várias maneiras de medir a valorização cambial e vários estudos brasileiros já as identificaram. Mais recentemente, o tema ganhou dimensão internacional, também em função da política cambial chinesa. A China, ao contrário de outros países não emissores de moedas conversíveis (aceitas e negociadas internacionalmente) mantém deliberadamente a sua moeda desvalorizada para ganhar competitividade.


Em estudo recente, a UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development) analisou os desequilíbrios provocados pela valorização do real diante do dólar e a vantagem da política cambial chinesa, de desvalorização – que tem estimulado suas exportações e a geração de maior valor agregado da produção na China.


Um outro estudo realizado pelos economistas William R. Cline e John Williamson  estima as diferenças entre as taxas de câmbio de mercado e a taxa de câmbio de equilíbrio (equivalente ao eixo do gráfico abaixo), contemplando a produtividade e nível de inflação, para 30 países em desenvolvimento, concluiu que o real está sobrevalorizado em 15% em relação ao dólar norte-americano, tomando como base a comparação entre as taxas de câmbio de março e dezembro de 2009.


Constatou-se ainda que, em outros países que competem com o Brasil, suas moedas estão desvalorizadas frente ao dólar, principalmente, em alguns fortes competidores asiáticos como a China, Hong Kong, Malásia, Taiwan, Japão e Tailândia. O Yuan chinês, por exemplo, o caso mais evidenante, está subvalorizado em mais de 40% relativamente ao dólar.


Ou seja, um produto chinês competindo no mercado doméstico brasileiro ou, com uma empresa brasileira no mercado internacional, leva uma vantagem inicial de pelo menos 66% (convertido em índice, com o Brasil=84,6 e a China=140,7; podemos calcular: Brasil/China=84,6/140,7=0,60. Com isso, temos 1/0,60=1,66 ou 66%), somente pelo aspecto cambial (Figura 1), sem considerar os demais fatores de competitividade, como custo de financiamento, carga tributária, etc. que também lhes são favoráveis.


É falsa a idéia que se possa “compensar” a valorização do real, para citar o ponto fundamental, por uma desoneração tributária, ou incentivo. Iniciativas de redução do chamado “custo Brasil”, embora necessárias, não compensam por si só, a diferença cambial, tendo em vista o seu peso. Isso porque, o que está em jogo não é a comparação com as nossas próprias condições de competitividade no passado, mas dos nossos concorrentes no mercado internacional atualmente e no futuro.


A perda da competitividade brasileira, derivada da valorização cambial, evidenciada por pesquisas internacionais corroboram os riscos da política cambial brasileira, tendem a gerar um processo de desindustrialização do país, além de gerar desequilíbrios no Balanço de Pagamentos.


O déficit em transações correntes vem aumentando de forma muito rápida. Isso não é um problema de curto prazo, porque o nível de reservas cambiais é muito confortável e tem havido crescentes ingressos de capitais estrangeiros no País. Mas, no médio e longo prazos gera uma excessiva dependência de financiamento em dólares, o que em outras experiências significou a necessidade de interromper o crescimento da economia.



(*) cálculo da variação das cotações das moedas com relação ao dólar norte-americano entre março e dezembro/09, ponderadas pela importância relativa das moedas de seus países no comércio exterior dos EUA. /1números negativos significam sobrevalorização da moeda e números positivos significam subvalorização. Fonte: estudo realizado pelos economistas William R. Cline e John Williamson – Instituto Peterson .


 

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