Os imigrantes e o mercado brasileiro

A imigração já marca o Brasil por cinco séculos. Os primeiros imigrantes foram os portugueses, na época do descobrimento do Brasil, no século XVI e, desde então, em proporções maiores e menores, eles foram chegando. No entanto, foi na segunda metade do século XIX que se iniciou o grande fluxo de expatriados. Após este período, o Brasil nunca mais atingiu a marca de cinco milhões de imigrantes, registrada anteriormente. Hoje, o total é de dois milhões no mundo e, de acordo com especialistas, o Brasil é um dos países com o menor volume deles, apenas 0,2% da população.

Uma pesquisa conduzida por uma empresa especializada do setor classifica o Brasil em 27ª posição, no que se refere à questão da atratividade para imigrantes. O Chile e a China são os destinos mais procurados por profissionais e estudantes, ocupando a 9ª e a 19ª posições, respectivamente. A Suíça, Cingapura e Estados Unidos lideram o levantamento. Se considerarmos o percentual de estrangeiros nos países, nossos números também deixam a desejar. Enquanto Suíça lidera com 22,3%, ficamos apenas com 0,3% da nossa população.

Com o baixo número de estrangeiros e o apagão de mão de obra, é preciso repensar as estratégias para tornar o País ainda mais atrativo para estes profissionais. De acordo com pesquisas do setor, cada profissional estrangeiro poderia gerar entre 1,3 e 4,6 empregos e ainda, é claro, agregar ao trabalhador brasileiro a cultura de disseminar know-how a outros profissionais, além do conhecimento processual.

São inúmeros os benefícios proporcionados pela vinda de imigrantes para o Brasil. Os níveis de especialização, bagagem, experiências múltiplas e até mesmo a fidelidade profissional característica têm muito a acrescentar em nossa cultura organizacional.

O principal benefício que a imigração traz ao Brasil é a oportunidade de qualificar a mão de obra em nível nacional, com profissionais especializados, formados por escolas mundialmente reconhecidas e dispostos a aplicar, ensinar e transmitir o conhecimento e a tecnologia utilizados no país de origem.

Uma rápida análise da história brasileira revela que a participação dos imigrantes no século XX permitiu a modernização da agricultura, o processo de industrialização e o desenvolvimento do comércio e do setor de serviços.

Embora o País tenha avançado muito nos últimos cem anos, pouco se investiu na formação e qualificação profissional e há um apagão de talentos em todas as áreas profissionais. Em uma economia moderna e em desenvolvimento, esta realidade é preocupante e a importação de mão de obra qualificada, disposta a transmitir e compartilhar conhecimento, é uma alternativa eficiente para combater os anos de atraso educacional e profissional do País.

Em meio a este cenário e em busca de maior diversidade e conhecimento de mercado, as empresas buscam, com cada vez mais frequência, mão de obra especializada e que está em falta no mercado brasileiro. Vale ressaltar que este esforço vindo das empresas não visa prejudicar ou refrear a presença de brasileiros no mercado de trabalho, e sim contribuir com a formação e técnica destes profissionais que, em breve, terão o know how necessário para suprir às demandas existentes.

Entretanto, para que este intercâmbio funcione na prática é preciso repensar alguns (pré) conceitos sociais, raciais e até sexuais da cultura brasileira. É preciso que as empresas pensem em treinamentos interculturais, por exemplo. Para que haja maior interação e respeito mútuo à cultura de cada país dentro das organizações, é necessário que os colaboradores conheçam e respeitem as culturas e o espaço um do outro.

Questões como os esforços do governo para promover esta interação e facilitar a entrada de imigrantes no País, bem como medidas que auxiliem no posicionamento do Brasil como um polo atrativo e de boas oportunidades são alguns dos desafios.

O Brasil já evoluiu muito em alguns aspectos imigratórios. Porém, ainda temos um longo caminho a percorrer. Em tempos de globalização, o País não pode perder esta oportunidade de crescimento, troca e transferência de conhecimento.

A vinda de estrangeiros não pode nem deve ser considerada uma subtração no número de vagas. Deve sim ser entendida como uma oportunidade de novas posições de trabalho e de desenvolvimento iminente do País, para ampliação e formação de profissionais completos.

* Renê Ramos é advogado, formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). É especialista em Direito do Trabalho e Cível e pós-graduado em Direito Processual Civil. Em 1999 passou a atuar com Direito Imigratório. Hoje, atua como sócio do departamento jurídico da EMDOC – Consultoria Especializada em Mobilidade Global.

CCommons/flickr/fibonacci blue
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