Indústria 4.0 e formação dual

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Dr. Wolfram Anders, presidente da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e CFO da Robert Bosch

Segundo a terminologia e a contagem alemãs, a fabricação industrial já teve três avanços fundamentais e revolucionários. Todos vocês conhecem as três revoluções industriais já ocorridas: máquina a vapor, esteira rolante e comando digital.

Atualmente, uma nova tendência está possibilitando perspectivas até certo ponto ainda desconhecidas para nossas fábricas: a conexão em rede pela internet.

Os números também documentam a dinâmica dessa megatendência. Enquanto que em 1995 só cerca de 40 milhões de pessoas estavam conectadas ou online, neste ano essa cifra já chegará a 5,5 bilhões, ou seja, quase dois terços da população mundial. O número de coisas conectadas está se desenvolvendo de modo mais rápido ainda. Em 1997 havia cerca de 6 milhões de computadores conectados à internet. Em 2015 esse número chegou a mais de 6 bilhões de coisas.

O que está em pauta na Indústria 4.0 é a conexão dos produtos – como produtos primários, como produtos finais juntamente com seu entorno produtivo – na cadeia logística. Na Alemanha, cunhou-se o termo “Indústria 4.0” para designar esse processo. Sensores integrados, processadores, software e tecnologia de redes, associados à computação em nuvem, estão trazendo possibilidades inteiramente novas e imensas oportunidades de negócios. A Indústria 4.0 se caracteriza pela inteligência descentralizada. Os produtos inteligentes podem ser identificados com clareza e a qualquer momento, e as cadeias de agregação de valor também estão articuladas em rede. Todos os dados e informações estão disponíveis no sistema em tempo real.

No estado ideal da produção articulada em rede, o sistema se torna em grande parte autônomo e comanda a si mesmo. Nesse sentido, é importante compreender que no futuro também haverá comunicação mútua entre objetos que até agora não tinham quaisquer componentes eletrônicos (como janelas e portas, p. ex.). Isso é possibilitado por grandes progressos nos sistemas de sensores, e nessa área a Bosch é uma das pioneiras. E isso também cria nova agregação de valor.

Atualmente, há cerca de 50 projetos piloto em andamento na Bosch, que podem ser subdivididos em sete aplicações:

  • Produção adaptável;
  • Grandes quantidades de dados;
  • Memória de produtos, dados de campo;
  • Produção conectada em rede;
  • Manutenção inteligente;
  • Logística adaptável;
  • Informações para contextos específicos.

Com a ajuda da aquisição de dados ou Big Data podemos hoje conectar mutuamente dados que até agora não podiam ser interligados. Essa análise nos revela correlações de que não tínhamos conhecimento até agora.

A tecnologia da identificação por radiofrequência (RFID, na sigla em inglês) cria transparência em toda a cadeia de agregação de valor, desde nossos fornecedores, passando por nossa própria fabricação, até nossos clientes finais.

Na Bosch, estamos dando ainda um passo além. Em nossa fabricação de válvulas hidráulicas em Homburg, no Sarre, a operação de uma linha de montagem adaptativa se encontra atualmente em fase de testes.

Produção de válvulas hidráulicas para aplicações móveis com tamanho de lote 1. A linha não irá apenas dar conta das 25 variantes de produtos já existentes atualmente, mas também poderá inserir novas variantes na produção. Tempos de preparação ou estoques excessivos não são necessários para isso. O know-how de que já dispomos agora, por exemplo nossa competência em RFID, já está integrada nessa linha de montagem.

Resumindo, a Indústria 4.0 pode contribuir para:

  • Aumentar claramente a produtividade na produção e, com isso, reduzir custos. Isso também melhora as chances de enfrentar a concorrência que opera em locais de produção de baixo custo;
  • Pelo menos de igual importância é o fato de que a Indústria 4.0 representa um enorme programa de investimentos;
  • Mais ainda: a Indústria 4.0 gera oportunidades para modelos de negócios inteiramente novos.

Mas também há desafios, e eles se aplicam tanto à Alemanha quanto ao Brasil: as empresas, instituições de alcance mais abrangente como as Câmaras de Indústria e Comércio bem como a política em atitude solidária podem criar os pressupostos para que ocupemos uma posição de liderança internacional na Indústria 4.0.

Os mais importantes desafios são os seguintes:

  • Desenvolver competências-chave;
  • Cooperação abrangente, também com parceiros de outros segmentos;
  • Ampliar a rede de banda larga;
  • Proteção de dados em um mercado digital comum, bem como
  • Preparar e incentivar as pessoas.

Este último ponto é especialmente importante: pode-se pressupor que muitas atividades recorrentes e simples serão assumidas por sistemas de assistência. E no âmbito do trabalho surgirão novas tarefas que, muitas vezes, serão mais desafiadoras e exigentes, seja na programação de algoritmos ou na análise de dados. O ser humano irá adquirir um novo papel como organizador e tomador de decisões. Neste sentido, nosso sistema dual de formação também se torna relevante. No caso do Brasil, isso implica a rápida introdução desse bem-sucedido sistema de formação profissional, sua ampliação e seu aperfeiçoamento.

Também há ainda tarefas a serem assumidas pelo governo brasileiro (p. ex., a redução da idade mínima de início da formação de 18 para ao menos 16 anos). Para tanto se organizou uma mesa-redonda junto com a Embaixada Alemã e políticos em Brasília.