Transformando podas de cajueiro em eletricidade


Um projeto desenvolvido por pesquisadores do Ceará em parceria com a Universidade de Brandenburg, na Alemanha, pretende criar usinas termelétricas alimentadas pela poda de cajueiros.



Uma usina à base de caju poderá produzir até 5 megawatts por hora, energia suficiente para suprir o consumo mensal de 1.500 casas rurais. Além disso, o projeto prevê que as termelétricas funcionem associadas a unidades de biogás, produzido a partir do aproveitamento do bagaço da “carne” do caju.



A tecnologia já foi patenteada pela Agência Alemã de Energia (Deutsche Energie-Agentur GmbH) e pelo Instituto Alemão para Normatização (Deutsches Institut für Normung e.V.).



Com o objetivo de medir a eficiência do projeto, em 2006 foi instalada uma unidade de testes na Alemanha, que funciona à base de madeiras e raízes de árvores da região de Sellesen.



Confira a entrevista de Esio Santos concedida ao BRASIL ALEMANHA NEWS



BAN – Como foi o processo de pesquisa até se chegar à conclusão de que o cajueiro é a melhor alternativa para o projeto?



Santos – No semiárido, que abrange regiões do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, existem diversas árvores com poder de queima melhor que o cajueiro. No entanto, por produzirmos caju há mais de cinquenta anos em grandes áreas e por conta de pesquisas sobre plano de manejo da fruticultura tropical e o valor calorífico das madeiras de árvores da região, que se iniciaram em 1997, conseguimos analisar com profundidade a cadeia produtiva da cajucultura.



Por sua abundância na região nordeste, o processo de poda e tratos culturais das árvores de caju já são uma prática natural dos agricultores, e sua comercialização se encontra normatizada de forma legal pelos órgãos ambientais. Além disso, o cajueiro pode dar frutos durante quatro meses do ano, sendo uma boa opção para alimentar o projeto.



BAN – Qual é a importância da implantação de um projeto como este para o Estado do Ceará?



Santos – Para o nosso Estado, o projeto terá um papel relevante ao contribuir para o aumento da sustentabilidade na cadeia produtiva do caju. Isto é, teremos um novo parâmetro para aumentar a receita dos produtores de caju, que é a utilização da biomassa (lenha) e resíduos da polpa (bagaço de caju) para gerar energia.



Com a implantação da termelétrica e da usina de biogás, a cajucultura voltará a ser pauta de riquezas e rendas para o Estado do Ceará.



BAN – Qual a atuação da Universidade de Brandenburg na parceria?



Santos – A Universidade de Brandeburg desenvolve fundamental importância no projeto, pois é o principal agente fomentador de transferência de tecnologias limpas para o processo de geração de energia a partir de biomassa e resíduos da agricultura. Nós contamos com a parceria do Departamento de Termoelétricas da Universidade de Brandeburg, (KWT – BTU – Cottbus), representado pelo Professor Doutor Hans Joachim Krautz, que é o principal pesquisador e orientador de lá envolvido nos projetos para o Ceará.



BAN – Além do uso da poda de cajueiros para gerar energia, que outras partes do fruto poderão ser utilizadas e para qual finalidade?



Santos – Nas indústrias de processamento de castanha de caju, para extração da amêndoa da castanha de caju, teremos como resíduos a casca e o líquido da castanha. Ambos serão utilizados como combustível para cogeração de energia, que significa a produção de energia elétrica e calorífica.



Já nas agroindústrias para processamento da polpa do caju, será utilizado o bagaço deste e de outras frutas tropicais junto com resíduos de folhas para produzir biogás, que além de gerar energia, garante um biofertilizante como subproduto.



BAN- De quais maneiras a termelétrica e a usina de biogás podem contribuir para a preservação ambiental?



Santos – O funcionamento da usina termelétrica não acarreta grandes impactos ao meio ambiente, pois estas unidades trabalham com sistemas de lavadores de gases de tecnologia alemã e estações de tratamento de efluentes (águas aquecidas).



Antes, os resíduos da cajucultura eram jogados em lixões, responsáveis pela produção de gases como o metano CH4, que contribuem para o efeito estufa, um dos principais causadores do aquecimento global. Com a produção de biogás na usina a partir do metano, haverá uma total mitigação deste gás nocivo ao meio ambiente.



 



 

Divulgação/Gabriela Alves
Divulgação/Gabriela Alves